Golpe no Irã depõe Mossadegh - 1953


Em 13 de agosto de 1953, o primeiro-ministro do Irã, Mohammad Mossadegh, é demitido de suas funções por pressão dos Estados Unidos e do Reino Unido. Mossadegh, líder da Frente Nacional, aliada dos comunistas e dos religiosos, tinha nacionalizado a Anglo-Iranian Oil Company. Em represália, o general Fazlollah Zahedi, sustentado pelos anglo-americanos, derruba Mossadegh e permite ao xá Mohammad Reza Pahlevi assumir o controle absoluto do país. 

Agindo em conjunto, a CIA e o M-16, o serviço secreto britânico, arquitetaram um golpe de Estado no Irã, em 1953: a Operação Ajax. O objetivo era a derrubada do primeiro-ministro Mossadegh, o líder nacionalista que estatizara as empresas petrolíferas estrangeiras. O nacionalismo iraniano, perseguido pelo regime pró-ocidental do xá, terminou por refugiar-se nas mesquitas dos aiatolás e mulás, fazendo com que eles liderassem a revolução xiita de 1979. 

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Mohammad Mossadegh ao lado do presidente norte-americano Harry S. Truman, em 1951 

Em princípios de junho de 1953, um agente da CIA, Kermit Roosevelt, neto do presidente Theodor Roosevelt, transpôs clandestinamente a fronteira irano-iraquiana. A missão dele, por orientação do secretário de Estado John Foster Dulles, era convencer o xá a se desfazer do "inconveniente" primeiro-ministro Mossadegh, líder do Movimento Nacional Iraniano. Tinha início a Operação Ajax, coordenada pelo agente Donald Wilber e por Norman Darbyshire, o braço do serviço secreto britânico no Irã, uma das mais célebres e bem-sucedida ações clandestinas da agência norte-americana e do M-16 britânico, deflagrada para reverter uma situação crítica aos interesses anglo-americanos no Irã. 

No dia 1º de maio de 1951, o Majlis (parlamento iraniano) aprova a nacionalização do petróleo. Da noite para o dia, a Anglo-Iranian se viu excluída do país onde reinava como um Estado à parte desde 1908. O mundo do pós-guerra, especialmente nas regiões do Terceiro Mundo, começava a ser sacudido por uma maré nacionalista, na qual povos colonizados lutavam por autonomia política e econômica, contra as poderosas corporações estrangeiras que detinham, historicamente, concessões consideradas escandalosas. 

Mossadegh, dando seqüência à política nacionalista, concedeu prazo reduzido para que a empresa retirasse seus funcionários do país. No dia marcado, foram transportados pelos navios da marinha britânica. Para muitos, a incapacidade dos ingleses, impotentes em poder responder militarmente ao que consideravam uma humilhação daquela ordem, seguida de uma desapropriação dos bens da companhia, marcou o início do fim do Império Britânico. 

Mudança 

Em 1952, o cenário político nos EUA e no Reino Unido alterou-se. Os conservadores, liderados por Winston Churchill, vencem as eleições na Inglaterra, enquanto nos EUA era eleito o general Dwight Eisenhower, candidato dos republicanos. Afinados ideologicamente, os conservadores ingleses e os republicanos americanos de imediato articularam uma solução em conjunto para intervir no Irã. 

O problema não era Mossadegh em si, mas o "mau exemplo" da sua política. Se as grandes potências ricas nada fizessem uma onda de desapropriações e nacionalizações varreria a presença dos seus interesses em boa parte do mundo. Na equação de Dulles, o nacionalismo do Terceiro Mundo era igual ao comunismo ou seu aliado tático contra as nações capitalistas. No estreito mundo de então, separado pelo maniqueísmo do "bem contra o mal" da Casa Branca, o nacionalismo de Mossadegh conduziria o Irã fatalmente para os braços de Moscou. Portanto, os republicanos equipararam o nacionalismo do Terceiro Mundo a um inimigo tão nocivo quanto o comunismo. 

Impossibilitados pela conjuntura de fazerem uma intervenção militar direta, desembarcando no Irã uma força anglo-americana, recorreram à antiga prática da ação indireta: a estratégia do cavalo de Troia. O escolhido pelos serviços secretos ocidentais para derrubar Mossadegh foi o general Zahedi. Encarregaram-no de controlar a capital, prender o ministro e reentronizar o xá colaboracionista. Não faltou sequer uma manifestação "espontânea" a favor do xá, pedindo seu retorno de Roma, onde se exilara. A passeata significou o “apoio popular" para que Zahedi colocasse as tropas na rua, depondo o primeiro-ministro sem muito esforço. Todos estes detalhes foram expostos, anos depois, em um livro que Kermit Roosevelt publicou. 

No final de agosto de 1953, tudo voltara ao status quo anterior. O xá Reza Pahlevi recuperou plenos poderes, assumindo o papel de títere dos interesses anglo-americanos no Irã, permitindo-lhes formar um consórcio para continuar explorando o petróleo iraniano. A Anglo-Iranian ainda preservou 40%; tendo que ceder à Shell 14% e, às demais outras cinco empresas norte-americanas, 8% para cada. 

Vista de longe, a Operação Ajax foi uma vitória de Pirro. Ao abortar um legítimo movimento de emancipação nacional que tinha uma proposta de livrar-se do colonialismo sem recorrer à violência, a política anglo-americana propiciou que, anos depois, das entranhas da antiquíssima sociedade iraniana, nascesse um movimento teocrático antiocidental. 

Fonte: Opera Mundi

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