Canudos: a cidade do fim do mundo.
O trovão soa na colina não muito distante do sítio, e Julio Redondo (camisa suja de terra, facão pendurado no cinto) levanta a cabeça espantado dentro de casa. Diz só uma palavra: – Chuva . Fala com emoção e alívio. Com a entonação feliz de quem espera há muito por alguém que enfim aparece. Yamilson Mendes, um guia turístico de 35 anos (boné de ciclista, óculos de sol, bermuda), olha para o velho pastor de 85, é contagiado com seu otimismo e acrescenta duas palavras para confirmar a boa notícia: – Chuva, sim. A cidade de Canudos fica no interior vazio do Nordeste do Brasil , no meio desta região arisca e dura, o sertão, de uma vegetação única e singularmente bonita, a caatinga, que aguenta por 11 meses a mordida de um sol incandescente. Mas Canudos é famosa por outra coisa: em 1896, um batalhão de milhares de camponeses miseráveis, assolados por esta mesma seca, ajudados por grupos de bandoleiros e capatazes bravos de gado acostumados a lutar e a matar, ergueram-se