Hezbollah: Conheça a história do movimento xiita libanês.
O Hezbollah, palavra que significa “Partido de Deus”, surgiu como uma resposta à invasão e à ocupação do Líbano em 1982 por Israel, que lançou sua ofensiva militar para expulsar militantes palestinos que operavam no sul libanês. O Hezbollah foi criado por um grupo de clérigos muçulmanos xiitas radicais, com ajuda da Guarda Revolucionária do Irã, no Vale do Bekaa, na fronteira com o outro patrocinador do movimento, o governo sírio. Os xiitas eram o grupo social mais pobre e marginalizado do Líbano de então.
Nos anos iniciais, as principais táticas do grupo foram ataques suicidas, assassinatos e sequestros. Em 1983, um suicida em um caminhão-bomba em Beirute matou 241 marines (fuzileiros navais) americanos que faziam parte de uma força de paz enviada ao Líbano por sua guerra civil. A retirada das tropas americanas da cidade alguns meses depois, em 1984, foi vista como a primeira grande “vitória” do Hezbollah.
Em 1985, o movimento divulgou seu manifesto de fundação. Entre outras itens, o grupo prometia lealdade ao líder supremo do Irã, o então aiatolá Khomeini, reivindicava o estabelecimento de um regime islâmico no multirreligioso Líbano e queria a expulsão dos EUA, da França e de Israel do território do país, assim como a destruição do Estado judeu.
“A ideia primária em nossa luta contra Israel é que a entidade sionista é agressiva desde sua criação, pois foi construída em terras tomadas de seus proprietários, às custas do direito do povo muçulmano. Portanto, nossa luta só vai acabar quando a entidade for completamente destruída. Não reconhecemos nenhum tratado de paz, nenhum cessar-fogo”, diz um trecho do texto. Mais tarde, a defesa de um regime islâmico foi abandonada em favor de uma abordagem mais abrangente.
Originalmente um pequeno grupo guerrilheiro, o Hezbollah conseguiu expandir sua base de apoio ao aliar trabalhos sociais e atuação política ao discurso contra Israel e o Ocidente. Também ganhou reputação em todo o Oriente Médio por sua capacidade sem precedentes de enfrentar com sucesso as tropas do Estado judeu e aliados.
Depois de Israel ter assassinato o líder do Hezbollah, Abbas al-Mussawi, em 1992, Hassan Nasrallah assumiu o comando do movimento. Capitalizando a crescente simpatia entre os libaneses, Nasrallah decidiu que o grupo entraria nas eleições gerais do país naquele ano. O Hezbollah conseguiu oito cadeiras no Parlamento, o que deu legitimidade à sua luta e métodos.
Mesmo tendo um braço na política oficial, o movimento manteve sua campanha de ataques a soldados israelenses. Em 2000, quando Israel decidiu se retirar do sul do Líbano, o grupo capitalizou mais uma grande vitória e sua popularidade cresceu mais ainda.
Apesar da retirada israelense, o Hezbollah continuou periodicamente lançando mísseis contra o território de seu inimigo. Em 2006, o confronto esporádico se transformou em uma nova guerra contra Israel, que resultou na morte de mais de 1 mil civis libaneses.
Se os EUA e Israel veem o Hezbollah como um grupo terrorista e uma ameaça à estabilidade regional, o movimento se descreve como uma força de oposição a Israel e ao envolvimento do Ocidente no Oriente Médio. Para além do braço armado, são as diversas ações sociais que promove em favor dos xiitas que faz com que muitos o qualifiquem como “um Estado dentro do Estado”.
“O grupo combina as funções de milícia com uma rede de serviço sociais e de provedor de trabalho”, afirma o cientista político Augustus Richard Norton em seu livro "Hezbollah: A Short History" (Hezhollah: Uma Breve História, em tradução livre). “Os esforços de reconstrução do Hezbollah depois da guerra de 2006 foram considerados melhores do que a resposta do governo americano à destruição provocada pelo furacão Katrina (2005)”, segundo o texto.
Ainda é incerto, contudo, se o grupo vai conseguir manter sua força e identidade frente aos novos desafios surgidos com a instabilidade na Síria. Nasrallah prometeu publicamente empenhar seus esforços para a sobrevivência do regime do presidente sírio , Bashar al-Assad.
“A decisão de mandar forças para a Síria marca uma importante mudança no Hezbollah, ao deixar o sul do Líbano potencialmente exposto a Israel. A medida deixou muitos xiitas libaneses preocupados que o Hezbollah esteja mais comprometido com suas alianças com o Irã e a Síria de Assad do que com o seu país”, afirmou o pesquisador do Oriente Médio Robert Danin, em uma análise para o Council on Foreing Relations.
Fonte: Último Segundo.
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