Jerusalém Oriental e Tel Aviv: duas visões sobre o mesmo conflito.
Enquanto segue a ofensiva israelense lançada contra Gaza e centenas de foguetes caem em ambos os lados todos os dias, os árabes de Jerusalém Oriental e os habitantes de Tel Aviv (onde soaram as sirenes de emergência pela primeira vez desde a Guerra do Golfo) têm opiniões muito diferentes sobre a operação batizada de Pilar Defensivo.
Efe (16/11/2012)
Palestino se manifesta em uma rua próxima da emblemática Porta de Damasco da Cidade Velha de Jerusalém.
Para os moradores de Jerusalém Oriental, que vivem na parte da cidade que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) espera transformar em capital de um futuro Estado Palestino, os ataques israelenses são a conitnuação dos crimes da ocupação. Nesse pedaço da cidade sagrada moram principalmente árabes, muitos deles cidadãos israelenses e tantos outros apenas residentes permanentes, que possuem uma visão muito clara sobre a recente escalada da violência as contínuas explosões de foguetes.
“Não matam militares, nem destroem alvos militares: matam crianças, danificam casas, implodem edifícios, enfim, explodem tudo”, comentou ao Opera Mundi Aasem, um vendedor de livros da popular rua Salah al Deen. “É um crime de guerra, Israel está matando civis e, de acordo com a lei internacional, isso constitui um crime”, acrescentou Aasem, visivelmente irritado.
Embora a maior parte dos moradores dessa cidade três vezes santa prossiga a vida sem se preocupar com a queda de mais foguetes, basta mencionar a recente ofensiva para aquecer os ânimos. Outros também concordam com a opinião de Aasem e a grande maioria não consegue esconder a irritação ao comentar a situação.
“Eu sou palestino, e esse é o meu povo, estão matando meu povo. Ontem Israel matou onze membros de uma mesma família, incluindo crianças. Os aviões de Israel estão matando civis e o sangue não está nas mãos dos palestinos, mas sim nas mãos dos líderes israelenses”, afirmou Ashraf, de 29 anos, que estava a caminho do trabalho.
Os habitantes de Jerusalém Oriental garantem também que não têm qualquer medo dos foguetes lançados da Faixa de Gaza, como, por exemplo, o que caiu muito próximo de Jerusalém na última sexta-feira (16/11). “Aqui as sirenes apenas dispararam, mas não nos importamos com isso”, disse Ashraf. “Nós agradecemos quaisquer foguetes que danifiquem a ocupação israelense. Que caia em Jerusalén, Tel Aviv, Ramala, não nos importamos, porque essa é uma luta contra a ocupação”.
A falta de abrigos antibomba nessa parte da cidade não é uma questão para eles. “Se não nos deixam construir nem mesmo casas, como é que vão deixar construir abrigos?’, ri Omar, outro morador da região, enquanto toma um café em uma rua próxima da emblemática Porta de Damasco da Cidade Velha de Jerusalém. “Quando soaram os alarmes, nada mudou. Todos olharam para cima e continuaram o que estavam fazendo como se nada estivesse ocorrendo. Aqui essas coisas não nos preocupam tanto como no lado ocidental.”
Tel Aviv
Por outro lado, com mais de 1300 foguetes lançados contra Israel desde a última quarta-feira (14/11), a maioria dos cidadãos judeus de Israel apoiam incondicionalmente a ofensiva contra Gaza. Em Tel Aviv, cidade que a maioria em Israel chama de “a bolha” por ter sido o alvo do conflito durante anos, também soaram as sirenes pela primeira vez em mais de 20 anos.
Efe (16/11/2012)
Israelenses aproveitam um dia de sol em Tel Aviv momentos antes de alarme contra foguetes ser acionado .
“Quando escutei o alarme não me assustei tanto. Simplesmente fiz o que pediam na televisão e no rádio. Sentei no chão como todos, porque estava na rua. Estou totalmente de acordo com a ofensiva. O que está ocorrendo no sul é intolerável, com mísseis caindo um dia sim, um dia não, e deixando um milhão de pessoas assustadas. Qualquer outro país do mundo faria o mesmo”, comentou Michael T., um estudante de Tel Aviv.
A diferença entre os residentes de Jerusalém Oriental e os de Tel Aviv é que estes possuem abrigos antibomba a disposição. Mais além, a maioria das casas de construção mais recente vem equipadas com reforços em caso de ataque. “Eu estava na rua quando soou a última sirene e andava com minha neta”, contou Carmela, uma moradora de Tel Aviv que passeava com sua neta pela Praça de Yitzak Rabin, o emblemático político israelense assassinado por um extremista judeu de direita justamente por tentar alcançar a paz com os palestinos.
“Pelo menos chegamos a tempo em um refúgio de um centro comercial, porque os alarmes disparam 45 segundos antes da explosão. Como estava com a criança, fiquei com muito medo. Agora, quando saio com ela, sempre calculo mentalmente o quão distante estou do abrigo mais próximo”, disse. Carmela, que apesar de seu nome não tem origens espanholas ou latinas, lamenta a perda de vidas em Gaza, mas apoia incondicionalmente a atuação do governo israelense na Faixa de Gaza.
“Eu não quero que ninguém seja ferido em nenhum lugar, e lamento profundamente as vítimas, mas é que aqueles que vivem no sul [em Israel] não têm vida, estão sempre com medo e muitas vezes têm que procurar abrigo no meio da noite. A verdade é que o governo fez o que tinha de ser feito”, concluiu.
Fonte: Opera Mundi.
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