Hoje na história - 1905 - Alemanha de Guilherme II fracassa ao tentar conquistar o Marrocos.


Em 31 de março de 1905, ocorre o Golpe de Tanger, uma iniciativa intempestiva do imperador da Alemanha, Guilherme II, que iria resultar no domínio da França sobre o sultanato do Marrocos.
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Depois que se propôs a colonizar a Argélia, a França passou a se preocupar com a segurança da fronteira com o Marrocos e cobiça também o sultanato vizinho, na época, um dos últimos países independentes da África. Seus comerciantes e empresários mostravam-se muito ativos em Casablanca, um porto então recentemente criado.
Ao concluir em 1904 a Entente Cordiale, fraceses e britânicos aceitam o princípio de um protetorado de Paris sobre o Marrocos. Entretanto, o imperador alemão Guilherme II não admitiu que as coisas ficassem assim. Descontente com a supremacia sobre o continente europeu, queria sua parte nas conquistas coloniais.
Tendo em vista prevenir o domínio da França sobre o Marrocos, desembarca teatralmente em Tanger, ao norte do sultanato, atravessa a cidade a cavalo, à frente de um imponente cortejo, e vai ao encontro do sultão Abd-ul-Aziz para garantir seu apoio.
Esse Golpe de Tanger leva a um surto de germanofobia na França e à demissão do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Théophile Delcassé. Desemboca também numa conferência que vai de 16 de janeiro a 7 de abril de 1906, em Algesiras, sul da Espanha.
A conferência confirma a independência do Marrocos, que mais parecia uma tutela internacional, e reforça o direito de acesso de todas as empresas ocidentais a seu mercado. Mas, para desapontamento de Guilherme II, ela estabeleceu também, implicitamente, os direitos particulares da França sobre o império xerifiano.
Caberia, inicialmente, à França e à Espanha o policiamento dos portos marroquinos e a presidência do Banco de Estado do Marrocos. O país chega ao âmago da rivalidade franco-alemã em setembro de 1908, quando a polícia francesa prende em Casablanca soldados da Legião Estrangeira que os agentes consulares alemães ajudaram a desertar.
Após ameaças mútuas, Berlim e Paris concordam em acalmar a disputa. As duas potências concluem em 9 de fevereiro de 1909 um acordo econômico que previa uma associação em todas as empresas marroquinas.
Mais além, o fraco Abd-ul-Aziz é derrocado por seu irmão Moulay Hafiz. Mas as tribos berberes do Médio Atlas vêm em socorro do sultão e sitiam o usurpador em Fez. Hafiz apela por ajuda aos franceses, que se fazem de desentendidos. Assim é que em abril de 1911 um exército ocupa as cidades imperiais de Rabat, na costa Atlântica, Fez e Meknes, no Médio Atlas.
A Alemanha via nessa intervenção uma violação dos acordos assinados em Algesiras cinco anos antes. Envia então a canhoneira Panther para Agadir sob o pretexto de proteger as empresas da região e, mais seriamente, para demarcar seu território e dizer à França que ela não detinha todos os direitos no Marrocos.
Informado do episódio em 1º de julho de 1911, o primeiro ministro britânico David Lloyd George exprime sua solidariedade com Paris e não deixa de ameaçar Berlim, para grande surpresa do imperador Guilherme II.
Por fim, o presidente do Conselho francês Joseph Caillaux acalma o jogo. Convencido de que uma guerra levaria a Europa à ruína, negocia com o barão de Lancken, conselheiro da embaixada alemã em Paris e íntimo do imperador.
Segue-se o tratado franco-alemão de 4 de novembro de 1911, com uma permuta de territórios na África Equatorial, entre o atual Camarões, antiga colônia alemã, e o Congo, colônia francesa. De resto, a Alemanha concede à França inteira liberdade de ação no Marrocos.
Este tratado de apaziguamento era visto, de parte a parte, como uma vil concessão ao inimigo. Na tribuna do Senado francês, Georges Clemenceau exclama: “De boa fé, queremos a paz. Porém se eles nos impõem a guerra, nos encontrará determinados. Viemos de uma grande história e entendemos que devemos preservá-la”.
Caillaux teve de ceder ao poder em 11 de janeiro abrindo espaço a Raymond Poincaré. Em 1917, em plena guerra mundial, escaparia por pouco de uma condenação à morte reclamada por Clemenceau. O novo governo não perde tempo e, em 30 de março de 1912, oficializa o protetorado da França sobre o império marroquino por meio de uma convenção assinada em Fez, com o sultão. A França completaria desse modo seu domínio sobre a África do Norte por cerca de meio século.
Fonte: Opera Mundi.

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